terça-feira, 7 de setembro de 2010

Regina

Talvez a Regina nem soubesse o quanto eu gosto dela, o quanto admiro a sua força, a sua coragem, o seu cuidado, a sua vocação de cuidar. Ela certamente não sabia o quanto eu fiquei triste de ver o seu sofrimento, ver aquela mulher forte e lutadora aos poucos perdendo o viço, a alegria, as forças. Covardemente, eu evitei visitar o Abrigo São Lucas nos últimos tempos.
Evitei porque eu sabia que ela estava doente, e admito que fui covarde porque deixei de ir por não querer ver a Regina no estado em que ela estava.
Contrariando todas as expectativas, remando contra a maré, enfrentando todo tipo de dificuldade, a Regina conseguiu levar adiante o projeto do irmão Joaquim, de cuidar dos velhos (seus filhos, como muitos fazem questão de dizer), de não deixar que eles fossem maltratados, judiados, de acolher os abandonados, fazendo do Abrigo um lar de fraternidade, de compaixão. Dando a muitos a chance de ter uma última morada digna, com comida, com remédios, com uma cama limpa para dormir, mas acima de tudo dando a eles atenção, afeto. Que o diga a dona Cícera, que acompanhou a trajetória da Regina e do Joaquim desde o começo, a primeira “filha”.
Quantos de nós seríamos capazes de abrir mão de nossas vidas para viver em favor dos outros, de desconhecidos? Para dormir e acordar preocupados? Para bater de porta em porta atrás de remédios, de fraldas, de comida, de produtos de higiene, de roupas para os outros? Quantos de nós teríamos estrutura para ver, dia após dia, idosos chorando a falta dos filhos, dos netos? Vê-los se arrumando para esperar uma visita que nunca chega, cheios de esperança de voltar para uma casa que nunca será a sua?
A Regina soube ser capaz de dar consolo, de acolher em seus braços quem chorava, de ser firme quando houve necessidade, de lutar pra dar dignidade a quem chegou no outono da vida.
Quem pode dizer que ela não foi feliz? Acho que agora, entre os anjos, ela descansa, já que aqui entre nós ela não pôde descansar.

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